Como foi que venci o medo do Deserto
Quem me acompanha nas redes sociais sabe que estive no Deserto do Atacama para realizar minha primeira maratona. Para enfrentar qualquer desafio não podemos deixar de ter, acima de tudo, foco, disciplina, dedicação e perseverança. Por esse motivo, resolvi contar um pouco mais sobre essa história e também sobre os meses que antecederam o meu desafio no deserto.
Mas antes de falar da prova em si, quero contar um pouco mais de como foi meu ano de 2016 e meus objetivos traçados. Ouvia muito a pergunta: Por que escolher o deserto para fazer a primeira maratona? Minha resposta sempre foi simples e objetiva: – Na verdade um escolheu o outro. Eu o escolhi pela dificuldade do desafio. Ele me escolheu para me mostrar sua grandeza e beleza. Nosso encontro foi em novembro desse ano (2016), por sinal, um encontro inesquecível.
Vamos voltar um pouquinho…
Foram dez meses me preparando para esse desafio. Durante o ano, outras provas estavam previstas. Resolvi usar esse ano para testar meus limites e entender como meu corpo reage para conquistar meus objetivos, tendo foco e disciplina como pilares principais.
Logo no início do ano, finalizei minha primeira prova de montanha com alto grau de dificuldade, depois mergulhei de cabeça numa prova de triátlon. Me decepcionei com meu resultado na ultramaratona antes de partir para o deserto. Foram fortes emoções que contribuíram também para testar as minhas válvulas cardíacas.
Trabalhar o corpo em diferentes modalidades me deixou mais focado nos resultados. Preciso de gás para seguir em frente e nada como ter diferentes desafios como combustível.
O primeiro desafio do ano
Meu primeiro desafio foi a KTR da Serra Fina, a minha primeira prova de montanha. Até então eram somente treinos nas serras da redondeza de onde moro. Valdir Pereira (Didi – bicampeão mundial pela seleção brasileira) estava certo quando disse, certa vez: “- Treino é treino, jogo é jogo”. Devemos colocar o time em campo. Nos treinos não carregamos nas costas a expectativa de ter uma única chance de sucesso. É finalizar a prova ou voltar pra casa sem a conquista. Nesse caso, eu sofri, mas venci meu primeiro desafio!
Um sonho realizado!
Logo depois já foi necessário pensar na minha prova de triatlón. Quase sem tempo para os treinos na água, não desisti de realizar essa prova mesmo sabendo que teria que arriscar todas as minhas fichas na prova de natação.
Para quem não sabe, a primeira entre as três modalidades: Natação, bike e corrida. A prova foi em Ilhabela, circuito de montanha e mar. Já estava acostumado com a montanha, mas o mar foi uma adversidade que tive que lidar. Não moro perto do litoral, portanto só treinei em piscina de 25 metros. Durante a prova, pensei em desistir, confesso, mas sabia que se eu superasse aquele desafio, as coisas ficariam mais simples pra mim. Busquei energia para não desistir e deu certo! Desafio cumprido.
A frustração
Meu terceiro desafio do ano não teve o mesmo final feliz dos anteriores. Uma ultramaratona não é para qualquer um, de fato. É necessário muito treino, dedicação, força de vontade e foco. O mais estranho nessa história é que para essa prova eu estava treinado. Já havia feito quase a prova toda em bom tempo, no mesmo local da corrida, dias antes. Já na prova, não consegui ter o mesmo desempenho. Durante toda prova algo me dizia que ia conseguir até que o corpo travou. Cãibras por todo o corpo restando somente 7 quilômetros para finalizar a prova. Desidratei demais devido ao intenso calor que fazia no dia.
Meu filho faria a prova Kids, às 16h, na praça central da cidade de Tiradentes, eu queria muito vê-lo correr. Sabia que tinha que fazer a prova em menos de 8 horas. Era exatamente o tempo que eu conseguiria fazer. Acredito que essa pressão psicológica contribuiu para que eu não completasse a prova. Moral da história: não consegui finalizar a prova e nem vê-lo correr. O momento em que nos encontramos e ele me mostrou a medalha dele, foi um baque. A foto abaixo fala por si só.
Sinal de alerta e novo plano!
Meu sinal de alerta ligou. Passei a concentrar as minhas energias para a maratona do Atacama. Se eu tinha tido desidratação por causa do calor de Tiradentes, como seria minha atuação em pleno deserto? Me perguntava constantemente. Comecei alternando os horários dos treinos. Treinei 3 vezes por semana ao meio dia. Diego, um amigo de equipe que faria a mesma prova, treinou comigo nesses horários malucos. Substituí meu horário de almoço pelos treinos. Pedi por muito sol e acabei treinando dessa maneira durante um mês.
Outra ação que tomei foi de começar a mentalizar a prova e o resultado dela, assistir vídeos de outros corredores e as dificuldades encontradas por eles.
No dia da viagem, uma surpresa: o Guilherme quis ir comigo e foi difícil convencê-lo a deixar o papai ir sozinho. Disse a ele que ia “apostar uma corrida”, como as outras, só que dessa vez num deserto. Segundo ele, o deserto é muito quente e tem muita areia, e então ele me fez “o pedido”: – Papai, dessa vez você vai ganhar a medalha? Essa pergunta mexeu muito comigo! Pode parecer simples para quem não tem filhos, mas esse pedido me fez levar uma grande responsabilidade na bagagem.
O meu maior problema da prova anterior foi a falta de hidratação e tinha que focar na solução. Um amigo de treino me passou um “passo a passo” elaborado por uma nutricionista para os 7 dias que antecediam a prova. Segui a orientação.
No dia anterior, descanso total, foco na corrida, mentalização da chegada e de estar vencendo os obstáculos, muita hidratação. Além, é claro, de controlar a ansiedade e ficar tranquilo.
O grande dia!
Após a largada fui controlando o ritmo, cadenciando as passadas e cumprindo, uma etapa de cada vez. Dividi a prova em partes e fui vencendo cada objetivo traçado.
No quilômetro 28, parte crítica da corrida, eu estava bem. Era fundamental que eu tivesse bem naquele momento, pois várias dunas e a famosa “Super Duna” estavam pela frente. Como aproveitei o frio do início da prova para não me desgastar, quando fez calor, que não foi tão forte naquele dia, eu estava “inteiro”.
Fui passando concentrado pelas placas de marcação de quilometragem até quando senti que ia completar. A euforia foi tomando conta de mim. Foi simplesmente mágico!
Um adendo: mesmo concentrado na prova, não deixei de apreciar a belíssima natureza, tirar fotos e fazer vídeos para registrar o momento. Não levei ao extremo o fato de ter que completar a prova, apesar de ser meu grande desejo. Curti cada passo, cada quilômetro.
O que aprendi com esse desafio e o que você deve levar para os desafios da sua vida:
- Ter um objetivo conciso faz toda diferença;
- Focar na conquista e visualizar o sucesso final;
- Se preparar adequadamente para o seu desafio;
- Estudar o que deve ser feito e ter um planejamento claro;
- Não deixar um fracasso atrapalhar sua vitória posterior;
- Dividir sua jornada em pequenas partes para serem alcançadas;
- Vibrar com cada vitória do trajeto;
- Controlar sua ansiedade e suas emoções para não atrapalhar seu desempenho;
- Não sofrer por antecipação. O que você imagina ser muito desafiador, pode não ser.
Qual foi seu grande desafio de 2016? Conte pra mim nos comentários. Vou adorar saber.
Se quiser saber mais sobre minhas histórias, basta se inscrever na minha lista VIP. Tem um local logo abaixo aqui!
Ouça também meus Podcasts!