Criatividade. Uma grande arma para enfrentar crises.
Primeiramente, é importante quebrar um tabu: que criatividade é para poucos.
Na verdade, qualquer um pode desenvolver essa habilidade, que diferencia e destaca algumas pessoas daquelas que são simplesmente comuns. Em meio a tanta concorrência, a criatividade pode ser um fator que determina a escolha por esse profissional ou aquele, ou por essa empresa, e não aquela, que você opte por essa marca frente àquela outra mais barata.
Durante minha vida, fui um amigo confidente dos números. Nunca, tive problema em aprender matemática e achava que, para lidar bem com números, era mais necessário ter um raciocínio lógico do que ser criativo. Mas nunca deixei de exercitar a criatividade, por mais que, naquele tempo, eu com nove ou dez anos, imaginasse que o que eu fazia eram exercícios criativos.
Quanto eu era pequeno, fazia meus desenhos de super-heróis, recortava-os para colar em papelão e colocava palitos para que eles ficassem em pé sobre o criado mudo do meu quarto. Todas as noites, olhava para eles, e toda semana aumentava um ou dois. Exercício essencial para quem não tinha condições para comprar os heróis em plástico.
Música era um sonho. Com dez anos, entrei no conservatório de música da minha cidade para estudar flauta doce, outra adaptação mediante o fato de não ter condições de comprar outro instrumento. Não sei como funciona a estrutura de ensino do conservatório hoje em dia, mas, na ocasião, foi-me dada somente a possibilidade de escolher entre Artes Cênicas e Artes Plásticas. Eu, sempre bom de papo, dei um jeito de ser transferido da minha primeira escolha – Plásticas para Cênicas. Quando via as aulas no palco, achava que podia ser mais legal! Tenho certeza de que isso contribuiu para que a criatividade estivesse sempre comigo, por mais que, em certos momentos, estava desacordada e um pouco atrofiada.
Antes, exercitar a criatividade era obrigatório para quem “vivia disso”. Agora, é fundamental só para quem vive!
Engana-se quem pensa que alguma ideia genial veio do além, ou do universo. Na verdade, até vem, mas ela, certamente, escolhe terrenos mais férteis para desembarcar. E você pode preparar o seu solo mental. Essa é a boa notícia.
Se você está lendo este texto agora e pensando: “Por que nunca pratiquei?”, poderia ter exercitado mais a criatividade em sua vida. Deixe esse pensamento pequeno de lado e foque nas histórias que viveu. Sua bagagem é um grande adubo, sua experiência de vida é a água que rega e o que você viveu é o espaço necessário para que as ideias surjam, cresçam e desabrochem. Basta estar limpo para isso.
Mentes inundadas com lixos do cotidiano, assuntos supérfluos e pensamentos negativos possuem pouco espaço para o encaixe de novas e boas ideias. Por isso, faz-se imprescindível a liberação desses pensamentos e, também, de sentimentos.
Liberada, nossa mente trata de buscar novas informações, novas histórias, e é por isso que algumas pessoas se dão melhores do que outras quando passam por uma chuva de ideias. Com a mente cheia, essas ideias se perdem como água em ralos. Por outro lado, quando temos boa capacidade de absorção, precisamos do passo seguinte, que é saber organizar tudo isso.
O primeiro ponto que eu recomendo, e que para mim faz total diferença, é ter um papel e caneta sempre próximos. Às vezes, uso o gravador do celular quando tenho ideias praticando atividade física ou abro um doc no bloco de notas quando a ideia me pegou desprevenido. O segundo ponto…. NUNCA deixe para anotar depois, pois, certamente, algo importante, ou até mesmo a conexão entre pontos, se perderá.
Pronto. Temos ideias anotadas. Vontade. Desejos. E agora?
Eu gosto muito da ideia de validarmos a ideia, mas isso tem um risco inerente, pois se trata de pessoas, saber com quem dividir essa ideia. E os pré-requisitos são: ser de completa confiança, que sente algo de bom por você por sentir, que tenha a mesma vibe construtivista que você e que seja, principalmente, otimista, mas não alucinado.
Dessa forma, passamos a ter um olhar que traga ponto de vista não enxergado antes. O debate é interessante, porque geram-se vários vieses de pensamentos que alimentam a ideia.
Sua ideia tem adjacências e por isso você deve se cercar de pessoas e conteúdos que estejam numa linha semelhante à sua. Nunca, imagine que sua ideia é tão exclusiva a ponto de achá-la única no mundo. Contenha-se!
Eu gosto muito de partir para um caminho “nada a ver”. Às vezes, para me inspirar, eu busco consistência em assuntos que são absolutamente desconectados da ideia que tenho, e, claro, assuntos que me tragam prazer e mexam com minhas emoções. Como não controlamos nossas emoções, elas podem fazer papéis significativos no desenvolvimento de uma ideia.
Por fim, o processo de criação, de elaboração de uma ideia, de desenvolvimento dela, necessita que você esteja sempre faxinando sua mente. Naturalmente, o mundo nos coloca lixos, e muitos deles tóxicos.
Num momento de crise, como o que estamos vivendo agora, é até aceitável que tenhamos medo, apreensão e ansiedade pelo que está por vir. Isso, de certa forma, bloqueia nossa capacidade de criação. Mas esse é o combate! Tente estar menos aceptível às toxinas impostas pelo meio.
Haverá uma nova normalidade, viveremos um novo momento, voltaremos a um mundo novo e, obrigatoriamente, teremos que ser um novo ser. E quanto mais criativo e sendo mais você mesmo, mais necessário você se fará neste futuro que bate às nossas portas.
Foto do post, Legos criados com peças avulsas pelo meu filho quando tinha cinco anos.